O primeiro projeto conhecido de uma bicicleta
é um desenho de Leonardo da Vinci sem data, mas de aproximadamente 1490. Só foi
descoberto em 1966 por monges italianos.
Os princípios básicos de uma bicicleta estão lá: duas rodas,
sistemas de direção e propulsão por corrente, além de um selim. Mas o
posicionamento do eixo de direção faz com que a bicicleta dobre no meio, o que
teria feito que Leonardo ou qualquer um tivesse muita dificuldade para manter o
equilíbrio.
Mesmo antes de Leonardo da Vinci já existiam brinquedos de
duas rodas. Há referências em pinturas feitas em vasos, murais e relevos.
Talvez houvesse a transmissão de alguma cultura falada sobre
veículos de duas rodas e é muito possível que alguns destes brinquedos tenham
existido de fato, mas não há uma documentação sequer e não deve ter
influenciado as idéias e projetos posteriores.
Antes de 1800:
Só aparecerá documentação que prova a existência de veículos
de propulsão humana após a Renascença e a maioria deles eram pequenos veículos
de três ou quatro rodas.
Em 1680 um construtor de relógios alemão, Stephan Farffler,
que era paraplégico, construiu para si primeiro uma cadeira de rodas de três
rodas e depois outra de quatro, ambas movidas por um sistema de propulsão por
alavanca manual.
Várias outras referências de veículos de propulsão humana
são encontradas até 1800, todas construídas na forma de carruagem.
Duas
rodas.
Pelos desenhos existentes sabe-se que era muito pesada e
rígida, e com o piso irregular das ruas e estradas de terra devia pular e socar
o passageiro. Como não tinha freio e sistema de direção quem a experimentou
descobriu o "prazer" do medo de um tombo ou colisão eminente e
praticamente inevitável.
Barão de "Von Drais": invenção do equilíbrio.
O alemão Barão Karl von Drais, engenheiro agrônomo e
florestal vindo de família de posses, pode ser considerado de fato o inventor
da bicicleta.
Em 1817 instalou em um celerífero um sistema de direção que
permitia fazer curvas e com isto manter o equilíbrio da bicicleta quando em
movimento. Além do mais a "draisiana" vinha com um rudimentar sistema
de freio e um ajuste de altura do selim para facilitar o seu uso por pessoas de
diversas estaturas.
A possibilidade de sentar-se num selim parecido a uma sela
de cavalo e apoiar os pés no chão, de direcionar a máquina e manter o
equilíbrio por longos trechos, e ainda frear, permitia ao condutor o controle
da situação e uma sensação conforto e segurança.
O princípio para movimentá-la era bastante simples: sentado
no selim da draisiana com os pés apoiados no chão bastava sair andando ou
correndo até que se chegasse ao equilíbrio. A partir daí o condutor levantava
os pés até que fosse necessário mais impulso para manter a velocidade e o
equilíbrio. No plano, conforme a situação do piso, era possível ir mais rápido
do que a pé. Nas descidas a velocidade era quase impensável para a época.
A novidade foi patenteada em 12 de Janeiro de 1818, em Baden
e em outras cidades européias, incluindo Paris. O Barão von Drais então passa a
viajar pela Europa fazendo contatos para mostrar seu produto, mas suas
qualidades de vendedor eram ruins e ele acabou ridicularizado e falido.
Máquina
funcional.
Mesmo patenteado surgem cópias da draisiana, algumas mais
desenvolvidas. Em pouco tempo é introduzido o ferro em sua construção, o que
melhora sua funcionalidade e proporciona que alguns novos projetos possuíssem
um sistema de suspensão no selim ou mesmo nas rodas.
Aparece também quem sabe tirar proveito comercial da nova
invenção vendendo ou alugando. E no dia 20 de abril de 1829 acontece a primeira
competição em Munique. Envolvendo 26 draisianas foi realizada numa distância de
4,5 km e seu vencedor cumpriu o trajeto em 31,5 'minutos, a uma média de 8,6
km/h, um feito para a época.
Ao que tudo indica desde que as primeiras draisianas foram
para ruas sempre se pensou em dotá-las de um sistema de propulsão que não fosse
feito pelo andar do seu condutor. A primeira a ser adaptada com pedais surge em
1839, criada pelo ferreiro escocês Kirkpatrick Macmillan. Ele aproveita o
conceito da máquina criada por Drais, redesenha a viga central que liga as duas
rodas, e adapta um sistema de propulsão por pedais em balanço ligados a um
virabrequim no eixo da roda traseira por meio de alavancas. O ciclista aciona o
sistema em paralelo à roda dianteira, com os pedais se movimentando para frente
e para trás. A bicicleta funcionava bem, mesmo assim não se popularizou.
A criação do velocípede.
-Pedais na roda dianteira.
Pierre Michaux, um carroceiro da cidade de Brunel, França,
recebeu em sua oficina uma draisiana para reparos. Depois de pronta colocou seu
filho para usá-la e este a achou muito cansativa. Michaux então passou a pensar
em algum sistema de propulsão que fosse ligado diretamente a roda dianteira e
que fizesse o deslocar da máquina mais fácil. Acabou redesenhando todo o
projeto original da draisiana, criando um quadro de ferro e um sistema de
propulsão por alavancas e pedais na roda dianteira. Pai e filho gostaram tanto
do resultado que acabaram por optar pela sua fabricação. Estava criado o que
viria a ser chamado de "velocípede". Michaux teve a esperteza de dar
um de seus velocípedes para o filho de Napoleão III e isto abriu as portas
comerciais de seu produto.Pierre Lallement, ferreiro e carroceiro francês,
afirmava ter inventado a mesma máquina antes de Michaux. Ele acaba se mudando
para os Estados Unidos onde veio a fabricar seus velocípedes, com patente requerida
em 1866, mas seus negócios não foram bem. Acabou falido.
Hoje se sabe que houve bicicletas e velocípedes com pedais
anteriores às de Michaux ou Lallement, como um modelo feito por Philipp Moritz
Fisher em 1853, dentre outros. Movido pela Revolução Industrial, o
desenvolvimento de veículos de tração humana, a maioria com quatro rodas,
ganhou grande impulso. Os projetistas perceberam a importância que um veículo
menor e mais barato, mais fácil de produzir e vender, teria sobre a vida de
todos, e não estavam errados.
A revolução industrial.
A Revolução industrial começa de fato no século XVIII, mas
foi o século XIX um momento muito especial na história da humanidade, com uma
impressionante revolução de idéias, conceitos, inúmeras realizações e transformações
sociais. As grandes capitais do mundo passaram a realizar grandes exposições
que mostravam o que de mais moderno havia. Foram construídos magníficos locais
de exposição que algumas vezes permaneciam em pé somente durante o tempo de
abertura do evento. Para se ter idéia do tamanho e importância destes eventos
basta dizer que a Torre Eiffel nasceu para fazer parte da Exposição Universal
de 1889 e que depois do encerramento do evento deveria ter sido desmontada. O
monumental pavilhão da exposição foi demolido e a Torre Eiffel foi mantida e se
tornou marco da humanidade.
Rapidamente os veículos movidos à propulsão humana ganharam
espaço e atenção do público, acabando por aparecer com destaque nas grandes
exposições. A criatividade de então não tinha limites e muito dos mecanismos,
peças e engenhocas que usamos hoje nasceram nesta época, muitas delas voltadas
para veículos movidos à propulsão humana.
"Bone Shakers"
"Chacoalhador de ossos"
Já na exposição de Paris de 1868 fica muito claro a importância
que biciclos, bicicletas, triciclos, sociáveis e outras variantes tomaria no
mercado francês e logo em seguida em toda Europa. Neste mesmo ano foi levado
para a Inglaterra um biciclo Michaux.
James Starley, um apaixonado por máquinas e responsável pelo
desenvolvimento das máquinas de costura fabricados pela Coventry, decidiu
repensar este biciclo e acabou criando um modelo completamente diferente. Tinha
construção em aço, com roda raiada, pneus em borracha maciça e um sistema de
freios inovador. Sua grande roda dianteira, de 50 polegadas ou aproximadamente
125 cm, fazia dela a máquina de propulsão humana mais rápida até então
fabricada.Como os pedais são fixos ao eixo da roda, quanto maior o diâmetro da
roda maior é a distância percorrida em cada giro desta, portanto maior a
velocidade alcançada em cada pedalada. As rodas a partir de então seriam
fabricadas com medidas que atendiam ao comprimento da perna do ciclista.
O modelo foi patenteado em 1870 quando Starley deixa a
Coventry e funda a marca Ariel, que coloca seus biciclos a venda por 8 libras
em 1871, um preço que poucos podiam pagar.
Sociáveis foram os primeiros veículos individuais ou de família. Com uma variação muito grande de desenhos de estrutura ou chassis, tendo de uma a mais de quatro rodas, movidos pela força de pernas, braços ou até mesmo dos dois juntos, estes veículos começaram a circular pelas ruas e avenidas em grande quantidade e acabaram enviando a vida nas cidades para a modernidade, para uma outra escala de velocidade, distância e liberdade individual.
Em poucos anos as sociáveis se tornaram viáveis para uma boa
parcela da sociedade urbana. Eram normalmente muito mais baratas e ocupavam
muito menos espaço que qualquer outra opção de transporte de então: charretes,
carruagens e carroças. Qualquer opção movida por tração animal demandava muito
espaço e trabalho de manutenção. Os novos veículos movidos a propulsão humana
eram limpos, exigiam pouca manutenção e podiam ser guardados até dentro de
casa. Permitiam cobrir boas distâncias com rapidez e alcançar uma liberdade de
ação até então impensável.
Com a popularização de vários modelos, principalmente do
biciclo, começaram a surgir os primeiros problemas: acidentes, disputa de
espaço público, questões referentes a leis, tensão social... Começam também a
aparecer triciclos e quadriciclos, que eram veículos mais sofisticados, mais
seguros e que permitiam um uso sem a preocupação de uma condução esportiva
quase obrigatória em bicicletas e principalmente biciclos. A industria
alcançava assim uma população mais idosa ou sedentária.
A condução destes veículos era total novidade e não havia
referências sobre segurança no trânsito. Em algumas circunstâncias todas estas
novas máquinas corriam mais que o conveniente, freavam menos que o necessário e
não eram muito estáveis. Para a população que não usava estes veículos o que a
princípio era visto como uma interessante curiosidade passou a ser motivo de
desconforto e irritação.
Clubes
e grupos organizados.
Por diversas
razões ciclistas organizaram-se em clubes, que realizavam grandes paradas, quase
manifestações de poder. Para o público em geral as competições eram diversão
garantida, tanto melhor quando a prova era feminina e as participantes usavam
calças - um espanto para os "bons costumes" de então. Surgiram clubes
de mulheres, outra revolução de costume para a época. Os novos movimentos de
reivindicação social da Europa na virada para o século XX, o que hoje chamamos
de esquerda, logo perceberam que estes clubes ciclistas poderiam ser uma boa
maneira de divulgar novos ideais sociais. Vem daí a frase até hoje muito usada:
"Ao socialismo se vai de bicicleta".
Bicicleta
de segurança.
Passadas décadas do surgimento dos veículos de duas rodas e
propulsão humana a imagem deixada pelos biciclos na maioria da população era de
insegurança. Na última década do século XIX começa o declínio dos biciclos de
roda grande e o fortalecimento das bicicletas de segurança.
O problema com os biciclos é sua insegurança. Seu condutor
pedala sentado praticamente sobre o eixo da roda dianteira e quando esta, por
dificuldade de ultrapassar qualquer obstáculo maior, perde velocidade
bruscamente arremessa o ciclista para frente e para o chão. Como a altura do
selim era alta o tombo geralmente tinha conseqüências sérias.
A questão da insegurança só foi resolvida com a
introdução do que é chamada de "bicicleta de segurança", que no fundo
é a bicicleta que conhecemos hoje. Sua configuração com duas rodas do mesmo
tamanho e ciclista pedalando entre elas resolve também definitivamente o grave
problema de equilíbrio existente nos biciclos de roda grande. Ter um
comportamento previsível e relativamente seguro para o condutor populariza o
produto.
O outro ponto importante para seu sucesso é a simplificação
dos processos de produção, portanto diminuição de preço final. As rodas de uma
bicicleta de segurança são ambas do mesmo tamanho. Fabricar e montar uma roda é
sempre um processo trabalhoso e demorado e a padronização de tamanho facilita
muito não só na produção da roda em si, mas em todo o processo de construção
porque uniformiza também o tamanho dos tubos usados para garfo e quadro.
Tudo isto transforma a bicicleta em um modo de transporte
simples, eficiente, mais seguro, confortável e barato que o biciclo. O
transforma em um transporte de massa. A bicicleta é levada a todas as partes do
mundo com aceitação que varia de local para local, mas no geral se populariza.
Pneus com câmara de ar: conforto e segurança.
A questão do conforto ainda era pendente. Com a diminuição
do diâmetro das rodas a sensibilidade da bicicleta para irregularidades e
buracos aumentou, e junto o desconforto do ciclista. Tentou-se de tudo para
melhorar o conforto, de sistemas de molas no selim, rodas com dois aros
concêntricos e molas, garfos com suspensão e até mesmo quadros completamente
articulados.
Mas é em 1888 que um inglês, John Boyd Dunlop patenteou o
pneu com câmara de ar. Primeiro fora testadas em competições com total sucesso,
para depois ser colocadas a venda. Pouco depois, em 1891, Edouard Michelin,
Francês, aparece nas competições com seus pneus sem câmara de ar.
O domínio na tecnologia na transmissão por corrente também
fez grande diferença porque esta cria um efeito elástico que diminui trancos
nos pés e joelhos do ciclista. A bicicleta passaria a ser mais suave de
conduzir.
Todas estes melhoramentos tecnológicos derrubaram em parte a
visão de dificuldade de condução, insegurança e incomodo que foi formada nos tempos
do biciclo e das primeiras bicicletas, o que fez com as novas bicicletas se
popularizassem.
Surge
o automóvel.
Muitas foram as tentativas de criar uma máquina que se
movesse por si só, sem a necessidade do uso da força animal ou humana. A maioria
das criações foram grandes carroças movidas por motores a vapor que moviam-se
com pouca eficiência e não eram nem um pouco funcionais.
A invenção feita por Carl Benz em 1886 é basicamente a
adaptação de um motor a combustão num sociável de três rodas. A imensa vantagem
desta criação era a leveza, o pequeno tamanho e a simplicidade de
funcionamento, qualidades tiradas do que já existia nas sociáveis de propulsão
humana e bicicletas.
E a história como sempre se repete: no início o automóvel
era uma diversão para pouquíssimos, logo passa a ser popular entre ricos, dá
seus primeiros passos como transporte de verdade, até atingir o estágio de
produção industrial e a sua conseqüente popularização e transformar-se em
transporte de massa e revolução social.
O Ford Model T, lançado no ano de 1908, é o marco do início
da produção em grande escala do carro. Era muito mais barato que qualquer outra
opção do mercado e ainda assim era acessível para poucos, mas não demorou muito
a se tornar popular. Custava 825,00 dólares e já no primeiro ano foram vendidas
mais de 10.000 unidades. Vinha única e exclusivamente na cor preta. A técnica
para sua produção em larga escala foi tirada da experiência na fabricação de
bicicletas.
Em pouco tempo a história da mobilidade humana seria
completamente transformada pela comodidade e rapidez do automóvel.
Grandes
guerras.
Se na virada do século XIX para o XX os Estados Unidos é um
país em construção e tem muito espaço para novidades como o automóvel, a Europa
de então vive situação diferente, quando não oposta.
Suas cidades seculares com suas ruas estreitas contiveram o
crescimento desenfreado do uso do automóvel. Nelas as distâncias são pequenas
próprias para o caminhar ou a bicicleta.
Na maioria das grandes cidades européias o sistema de
transporte de massa, com um eficiente sistema de trens, metrô, bondes e ônibus
faz do automóvel quase desnecessário. Mesmo assim o automóvel cresce.
A situação da Europa se complica com a I Grande Guerra em
1914 e logo depois com a II Grande Guerra Mundial que deixa os países
empobrecidos e com visão de prioridades emergenciais. As economias precisam ser
reconstruídas a partir do praticamente zero e qualquer gasto desnecessário é
evitado por um bom período de tempo. Todas políticas de redução de custos,
racionalização do uso do espaço urbano e de transporte de massa ajudam a
posição do uso da bicicleta, que passa então a ser ordenada e planejada,
transformando-se até em política de desenvolvimento econômico e social. O
ciclismo esportivo a cada ano se torna mais popular o que ajuda muito em todo o
processo.
A bicicleta, com o mesmo desenho de quadro que
conhecemos hoje, passa a ser o modelo preferido. O biciclo de roda dianteira
grande está morto mesmo antes dos 1900. As sociáveis em forma de triciclos ou
quadriciclos vão aos poucos sendo substituídas por tandens (dois ou mais
lugares para ciclistas sobre uma estrutura estendida de uma bicicleta normal),
reboques ou por modelos com "side car" ("carro lateral" -
pequeno carro de uma roda que se encaixa na lateral de uma bicicleta normal)
provavelmente porque estes modelos necessitam de menos espaço para serem
guardados do que um sociável.
Um fato mostra a importância que a bicicleta teve em certos
países, em especial nos Países Baixos: os alemães, logo após a invasão da
Holanda na Segunda Guerra Mundial, decretam o recolhimento de todas as
bicicletas do país como forma de desmobilizar todos os holandeses. Holandeses
não perdoam este ato até hoje.
Tempos difíceis.
A Segunda Guerra Mundial termina com a Europa arrasada. Se
conseguir matéria prima durante a guerra é difícil ou mesmo impossível o que
fez algumas marcas desaparecer, no pós-guerra a situação melhora, mas mesmo
assim a indústria tem que se adaptar aos novos tempos de escassez e compradores
empobrecidos. Produção com processos simplificados e padronização para economia
de material, busca de redução de custos necessária, uma nova mentalidade, tudo
fará com que a qualidade e durabilidade de todos produtos, incluindo aí a
bicicleta, não seja a mesma de antes.
A recuperação econômica da Europa Ocidental se faz com a
ajuda dos Estados Unidos e neste contexto a indústria automobilística sai de
certa forma fortalecida. A bicicleta só mantém seu espaço porque de outra forma
as cidades ficariam imobilizadas.
Quase uma década após o fim da guerra, já com a economia
mundial estabilizada, a bicicleta começa a perder espaço para motocicletas,
vespas, e outros pequenos veículos motorizados. Como saída é introduzido no
mercado modelos de bicicletas com rodas pequenas e ou dobráveis na tentativa de
ganhar novos clientes. A idéia era atender tanto homens como mulheres a partir
de um único quadro e resolver o problema de guardar uma bicicleta dentro de
residências de área pequena que então recebia a geração dos baby boomers.
Em alguns países ou regiões, principalmente nos Países
Baixos (Holanda) e Nórdicos, a política de transportes reconhece
definitivamente a importância da bicicleta não só como modo de transporte e uso
inteligente do espaço, mas elemento de desenvolvimento social equilibrado e
auto-sustentável.
O
oriente.
Os veículos de duas rodas não demoraram nada a chegar ao
Oriente. Pouquíssimo tempo depois do surgimento da Draisiana já havia algumas rodando
no Japão. Existem várias referências em desenhos e gravuras. É sabido que
colonizadores e missionários levaram a novidade também para a China e muito
provavelmente Índia.
Desde o primeiro contato com os veículos movidos a propulsão
humana de duas ou mais rodas os japoneses sempre lhes deram muita importância.
Logo estavam fabricando seus próprios modelos e o interessante é que eram
praticamente miniaturas dos europeus, simplesmente para atender a estatura
média japonesa, que é bem menor que a de franceses ou ingleses.
Mesmo antes do fim do século XIX já fabricavam bicicletas
com excelente qualidade. Em 1892 Eisuke Miyata, um fabricante de armas inicia a
produção de bicicletas e a partir daí o Japão entrará no mercado mundial de
bicicletas, peças e assessórios primeiro fabricando produtos mais simples e
alguns de qualidade duvidosa. Depois das guerras, principalmente da Segunda
Guerra Mundial, passaram a usar sucata reciclada como material, e acabaram
criando modelos interessantes, principalmente em alumínio aeronáutico.
A partir de 1970 passaria a alcançar um excelente nível de
precisão e durabilidade e seus produtos se transformariam em referência de
qualidade. Se a princípio os produtos eram cópias dos europeus e americanos,
com o tempo vão ganhando vida e tecnologia próprias. Dois grande fabricantes
viram referência, primeiro a Suntour e depois a Shimano que a partir do final
da década de 80 passaria a dominar completamente o mercado mundial de peças de
qualidade, chegando a ser responsável por 95% do comercializado.
Os chineses vieram a tomar conhecimento sobre a existência
dos biciclos logo após Michaux ter criado a sua derivação de uma draisiana com
pedais. Uma missão militar enviada para a Europa em 1866 voltou com a notícia
que chegou a ser publicada em jornal local. Mas a cultura local via com sérias
restrições tais modernizações e perdas de identidade. As poucas bicicletas que
rodaram estavam em mãos de estrangeiros, ricos e prostitutas, estas porque
tinham dinheiro e uma vida livre de normas sociais.
O número de bicicletas em toda China foi irrisório durante
décadas, e as poucas geralmente se encontravam nas cidades litorâneas ou
portuárias, que tinham mais contato com outras culturas. No mais a bicicleta
era ironizada ou mesmo ridicularizada. Seu uso começou a ser mais intenso para
serviços públicos, policiais ou militares, mas a população civil se manteve
longe da bicicleta quanto pode.
Com a Revolução Comunista em 1949 a bicicleta passa a ser
incentivada como política de transporte. As pequenas indústrias existentes até
então foram unificadas e a China passa a ser o grande produtor mundial de
bicicletas básicas - um modelo feminino, um modelo masculino e uma única cor:
preta. As bicicletas são cópias de modelos ingleses produzidos antes da Segunda
Guerra Mundial. A princípio toda produção atende praticamente somente ao imenso
e sempre crescente mercado interno, mas por causa política externa chinesa é
possível encontrar algumas enviadas para países que também embarcaram no
comunismo. A produção não dava conta da demanda e conseguir uma bicicleta nova
exigia paciência de meses e até anos.
Em praticamente todos países do Oriente a bicicleta acaba
exercendo um importantíssimo papel na sociedade. É usada para todos os fins, do
transporte individual ao de cargas, as mais diversas e algumas imensas. Não se
pode deixar de lado a criação de uma versão como táxi - os rickshaw. É difícil
dizer onde os richshaw surgiram, se Índia ou China, mas seu uso é muito comum
em toda a região.
A bicicleta é usada em todo o mundo e fabricada em
praticamente todos os países que tem parque industrial, mas não restam dúvidas
que China, Taiwan e Japão passam a ter um importante papel na história moderna
da bicicleta a partir do fim do século XX. Japão primeiro, depois Taiwan
passaram a ser a base de produção dos produtos de qualidade do mercado
americano, e um pouco mais tarde europeu, que é a base econômica da indústria
da bicicleta, peças, componentes e acessórios.
American way of life.
Para os Estados Unidos a Segunda Guerra Mundial serviu como
alavanca econômica e a definitiva explosão da cultura do automóvel. Sendo um
país com área imensa e densidade demográfica relativamente baixa, as distâncias
urbanas, interurbanas e interestaduais normalmente são grandes e a forma mais
simples e lógica de deslocamento foi sem duvida o automóvel. Mesmo dentro das
cidades a bicicleta acaba sendo pouco prática ou em certas situações até inútil
porque a cada dia o desenvolvimento urbano se dá nos subúrbios e cada vez mais
longe do centro. O uso da bicicleta então tem seus piores dias. Mesmo sua venda
para crianças acaba declinando.
O que irá mudar um pouco esta situação é o movimento de
contracultura da década de 60 e a crise do petróleo no início dos anos 70.
Neste momento surge a base do é hoje o movimento pró-bicicleta americano. Todas
as culturas alternativas começam a ver a bicicleta como antídoto ao mundo
motorizado, alternativa de transporte ecologicamente correto e ideal para uma
boa saúde. Aos poucos é estabelecida uma estratégia realista de ação política
pró-ciclista com a fundação de entidades que dentre outras ações contratam um
corpo de advogados especialistas em transportes e cidades.
No início da década de 70 a Schwinn, maior fabricante de bicicletas
americano de então, encomenda uma pesquisa para saber por que a bicicleta é tão
pouco usada. O resultado deixa claro que a principal razão é a baixa qualidade
da própria bicicleta, seguido pela dificuldade de estacionar e possibilidade de
roubo, e só então aparecendo a questão da segurança no trânsito. É possível que
esta pesquisa tenha influenciado a revolução da qualidade que viria acontecer
nos anos 80. E até hoje esta pesquisa é considerada um norte para quem trabalha
com bicicleta.
Mesmo sabendo as razões da crise a indústria não investe no
desenvolvimento da bicicleta, peças e acessórios, o que só faz piorar a
situação. Dentro do próprio setor a bicicleta era considerada nada mais que um
brinquedo. Em vez de tentar resolver o impasse os fabricantes americanos tentam
chamar a atenção do público através de novos desenhos e soluções estranhas,
tornando a bicicleta cada dia menos realista e prática, algumas vezes
delirante. Em todo este processo o número de bicicletarias diminui
drasticamente e praticamente todas as bicicletas passam a ser vendidas em
supermercados e magazines.
BMX.
Talvez a única boa notícia naqueles tempos foi o surgimento
do BMX, que vai aos poucos se estabelecendo nos Estados Unidos num longo
processo desde o lançamento da Schwinn Sting-Ray em 1963, um modelo aro 20' com
banco tipo banana e guidão alto, que lembra uma Harley Davidson modificada. Em
1973 a Yamaha lança a Moto-Bike, também aro 20', mas com suspensão dianteira e
traseira, e enfeites como um tanque de combustível falso e outros. Os meninos
já tinham há muito a prática de "limpar" a bicicleta para usá-la em
competições.
Em 1974 surge a primeira publicação especializada e a partir
de então o esporte BMX decola dentro e fora dos Estados Unidos. Em pouco tempo
se tornará um fenômeno, uma escola muito popular do que há de melhor das
técnicas de pilotagem de uma bicicleta. O interessante deste esporte é que
sempre esteve ligado à família porque suas competições são direcionadas às
crianças e adolescentes que normalmente têm em seus pais os incentivadores,
mecânicos, acompanhantes e torcedores. Neste sentido o BMX abre um novo caminho
para o uso da bicicleta como esporte e lazer. Ciclismo profissional, que até
então era a referência, é praticado por um círculo restrito de apaixonados e
fanáticos, fechado dentro de sua própria realidade técnica, quando não bruta.
Até a própria bicicleta de estrada estava ao alcance de bem poucos. Para se ter
idéia os pneus eram colados ao aro e para concertar um simples furo era
necessário descolar o pneu, descosturá-lo, remendar o furo, costurá-lo, para
finalmente colar de novo o pneu no aro. A bicicleta para o BMX era e segue
sendo um modelo muito básico, de simples manuseio. E entre as crianças tudo era
festa.
Triathlon.
Não se pode deixar de dar algumas linhas para o surgimento
do triathlon, também na década de 70. É uma modalidade esportiva em cuja prova
o participante primeiro nada, depois pedala e termina a prova correndo a pé.
Seu público é limitado pelo fato que o treinamento necessário requer a
disponibilidade de muitas horas de treinamento, local e equipamento apropriado,
o que custa caro. Mas foi exatamente por causa de seu público praticante,
geralmente gente de boa condição social, que novas tecnologias acabaram sendo
introduzidas no mercado.
Sem dúvida, estava aberta a porta para o que viria a ser o
fenômeno mountain bike.
A nova revolução: qualidade e precisão.
Os japoneses, que desde os primórdios da bicicleta tinham
indústrias de alta qualidade, perceberam que o mercado internacional,
principalmente o americano, poderia ser bom negócio se fossem apresentados
novos produtos que tivessem qualidade, precisão, desenho refinado e tecnologia
revolucionária que diminuísse sensivelmente a diferença entre o produto
profissional e amador; e que fossem vendidos de forma inteligente e agressiva.
Deu certo e surgem Suntour, Shimano, Tange, Araya, só para citar os maiores.
Foi usada uma lógica simples, mas muito inteligente: a
bicicleta passaria a receber o mesmo tratamento industrial e comercial de quem
faz sucesso, o automóvel. O resultado não tardou aparecer. A pesquisa da
Schwinn estava absolutamente correta.
Empresários americanos também perceberam o momento.
Desenvolvem novos produtos e fazem contatos com indústrias japonesas para
fabricá-los, de forma a baratear custos. Mike Sinyard cria a Specialized
Bicycles Components, que inicia as operações fabricando pneus para bicicleta de
estrada e alguns acessórios, mas que faz história quando passa a fabricar em
escala uma bicicleta para uso em qualquer situação ou terreno, a Stumpjumper.
A brincadeira de um grupo pequeno de californianos
residentes próximo a São Francisco deixa de ser simplesmente descer as
montanhas próximas, para ganhar tecnologia e vida própria. A bicicleta deixa de
ser improvisada, limitada e frágil para se transformar em uma máquina robusta,
precisa, leve e com uma tecnologia excitante. Em pouco tempo o nome
"mountain bike" se torna popular e acaba ultrapassando os limites do
esporte e lazer para também se transformar em ótima opção de transporte urbano.
Confiável e confortável permite que o ciclista faça o que gostaria de ter feito
quando criança. Até mesmo o fato de ter um preço bem mais alto que as de
supermercado se transforma em atrativo.
Juntou-se a saudável "insanidade" americana com a
qualidade japonesa e a bicicleta estava salva da "extinção". Os
europeus gritaram por algum tempo que as horas deveriam ser creditadas ao
ciclocross, modalidade que mistura ciclismo, barro e cross-country a pé, mas na
verdade o mountain bike derruba nichos de esporte e mercado, algo até então
impensável. Parafraseando a famosa série de TV "Star Trek" pode-se
dizer que o mountain bike acaba "indo audaciosamente onde nenhum homem
jamais esteve (com uma bicicleta)"
A venda das bicicletas cresce e em 1986 tem um salto com um
aumento de 80%, sendo que destas 35% são mountain bikes. Já em 1989 foram
vendidas 7.5 milhões de bicicletas somente nos Estados Unidos. Na Europa,
tradicional e com larga história no uso de bicicletas, o mercado que em 1976
era de 2.3 milhões, passa a 4.5 milhões em 1990. Se o mountain bike não é um
atrativo especial para os europeus, pelo menos todas as suas melhorias ajudam
muito a impulsionar a venda de outros tipos de bicicleta.
E aí é interessante fazer uma comparação entre dois momentos
da história. Se na virada do século XIX para o XX é inventado praticamente tudo
o que conhecemos na bicicleta de hoje, na virada para o século XXI há
introdução no setor bicicletas de tecnologias de ponta, desde a criação de
materiais novos para sua construção até o repensar da ergonomia para cada uso
específico. Na primeira metade dos anos 90 o uso de programas de computação
permite que o peso seja reduzido, chegando a 30% em alguns modelos de
competição, isto sem perda de resistência ou durabilidade. A melhoria na
qualidade do rodar de uma bicicleta de última geração para modelos fabricados
na década de 80 é impressionante.
Mountain
bike - um aparte.
O mountain bike começa a aparecer no final dos anos 70, em
Fairfax, norte da California, próximo a São Francisco e vizinho à Marin County.
Lá o ciclista Gary Fisher e Charles Kelly, junto com Joe Breeze e um punhado de
"garotos" que só queriam usar a bicicleta para se divertir. E nada
melhor que descer uma montanha técnica como o Mt. Tamalpais. Com o tempo a
brincadeira se transformou em competição. A bicicleta normalmente usada era a
Schwinn Excelcior, a mais resistente das "balloners" (bicicleta com
pneus bem grossos - 3.2 polegadas), mas pesava 30 libras (22.6 kg).
Com todo este peso era praticamente impossível subir a
montanha pedalando. As bicicletas tinham que ser colocadas levadas para o topo
da montanha em caminhão. Aos poucos foram sendo modificadas, primeiro com a
adaptação de um sistema de freio a tambor e mais tarde com uma relação de
marchas para permitir subir pedalando. Não tardou muito para que os primeiros
quadros fossem especialmente desenhados e construídos para o esporte.
As descidas no monte Tamalpais foram proibidas em 1984. A
trilha foi inutilizada com obstáculos para ter recuperação ambiental.
A partir de 1986 começam as competições oficiais nos Estados
Unidos. Sob as regras da NORBA, que dividia os participantes em várias
categorias para premiar o máximo possível, o esporte explode.
O primeiro
campeão é Steve Tilford, campeão no ciclocross. Mais para frente entrará a
geração vinda do BMX e então as técnicas de condução foram se mesclando e
refinando. Os europeus torceram o nariz para este esporte americano por um bom
tempo.
Na mesma época houve uma explosão de usuários urbanos
descobrindo que pedalar uma mountain bike no asfalto era muito agradável.
Surgem várias publicações especializadas, algumas voltadas para competição,
outras para lazer e uso urbano. O interessante é que no geral as publicações
americanas têm uma preocupação muito grande não só em informar o leitor, mas em
formar os novos ciclistas. É transmitida uma sólida base de princípios que
visavam sedimentar o futuro da bicicleta - e de seu mercado. Não tarda muito e
aparecem grandes feiras e eventos.
No início dos anos 90 começa ocorrer a segunda revolução que
o mountain bike traria: a utilização de tecnologia de ponta para melhorar o
desempenho da bicicleta. Como o mercado era grande e com uma parcela boa
suficiente para justificar gastos em pesquisa e experiências tecnologias até
então impensáveis acabam sendo introduzidas no mercado.
O mountain bike tem o mérito de realizar uma grande mudança
no pensar a bicicleta como um todo. Muda praticamente tudo, do projeto do
quadro e garfo, peças e acessórios; a visão e utilização da própria bicicleta,
e finalmente a forma de aproveitamento social deste veículo secular. Com o
mountain bike a bicicleta dobra uma encruzilhada da história e traz de volta as
duas rodas para o pesado jogo dos transportes.
Bicicletas comunitárias.
A primeira vez que se colocou um programa de bicicletas
comunitárias disponível ao público foi em 1966 (algumas fontes dizem 1964,
outras 1969), quando algumas bicicletas "old dutch" femininas
pintadas de branco foram deixadas soltas no Centro de Amsterdam para quem
quisesse usá-las.
A idéia do "happening" foi de Luud Schimmelpennink,
que pretendia que elas passassem de mão em mão e que se tornassem uma opção
comunitária de transporte. As bicicletas acabaram confiscadas pela polícia.
Luud fez tentativas de institucionalizar o projeto com a prefeitura, mas ouviu
um "a bicicleta está descartada; o futuro é do automóvel". Foram
realizadas outras tentativas, mas o resultado quase sempre terminava em roubo,
como em Cambridge, Reino Unido, em 1975, onde todas desapareceram quase que
instantaneamente.
No começo dos anos 2000 a idéia foi retomada em algumas
cidades da Europa. Dois sistemas entraram em funcionamento, um na França e
Espanha onde a bicicleta fica presa a um bicicletário e o usuário tem que estar
inscrito no sistema, e outro na Alemanha onde não há bicicletário e as
bicicletas ficam travadas na rua e são liberadas através de um código.
O sistema francês foi testado com sucesso em Lion, em 1975,
e tem em Paris o maior de todos os sistemas existentes com mais de 20.000
bicicletas disponíveis. Sevilha e Barcelona, Espanha tem um sistema com
funcionamento muito parecido. O sucesso em Barcelona foi total e 3 meses depois
de implantado levou às ruas 70.000 novos ciclistas. Em Paris, no seu primeiro
mês de funcionamento havia 1 milhão de inscritos e filas para sair pedalando.
As bicicletas têm desenho diferenciado para dificultar o roubo e só podem ser
paradas nos bicicletários disponíveis, que estão em média a cada 300 metros.
Para usar as bicicletas é necessário pagar uma taxa.
O sistema alemão usa bicicletas mais sofisticadas, com
suspensão dianteira e traseira, e sistema de rastreamento por satélite. O
modelo é um tanto pesado, mas agradável de usar. O interessante é o projeto do
quadro que não permite uma condução mais agressiva. A bicicleta pode ser parada
em qualquer local, mas é inevitável que se use as duas travas, a ferradura de
roda e o cabo para prender em qualquer local de onde a bicicleta não possa ser
carregada.
O custo para o usuário de qualquer um destes sistemas é
baixo se comparado a qualquer outro modo de transporte. A idéia continua sendo
a mesma das bicicletas brancas: estimular o uso da bicicleta de forma a
diminuir o uso do automóvel.
Na maioria das cidades da Europa e em várias cidades
americanas há bicicletas para alugar. O turismo urbano de bicicleta é cada dia
mais comum. Não raro se vê grupos de ciclo-turistas acompanhando
guias-turísticos-ciclistas.
Brojeto coasting e geometria "flat foot"
Vale a pena citar duas grandes revoluções recentes: o
Projeto Coasting da Shimano e a nova geometria de quadro criada pela Electra,
as "flat foot".
Shimano, a maior fabricante de peças de qualidade do mercado
mundial, decidiu no início dos anos 2000 aumentar suas vendas. Para tanto
contratou a mesma companhia que criou o iPod para saber o que era de fato o
mercado da bicicleta e qual o melhor passo para o futuro. Depois de pesquisas a
conclusão foi que só nos Estados Unidos havia 161 milhões de potenciais
compradores de bicicletas que se sentiam esquecidos. Desta pesquisa começou a
surgir uma geração de bicicletas com câmbio automático, sem cabos aparentes, e
de freio contra-pedal. Na Europa o projeto vai um passo adiante e além do
câmbio automático gerido por um micro computador, o dínamo instalado no cubo
acende os faróis automaticamente ao escurecer, e ainda se fala sobre um sistema
de suspensão inteligente.
O outro lado desta revolução que atende um público até agora
esquecido é a geometria "flat foot". A idéia é tão simples quanto
genial: boa parte dos que tem medo de usar uma bicicleta é porque quando estão
parados não conseguem apoiar os pés por completo no chão.
Na geometria clássica
com a altura correta do selim o ciclista apóia só as pontas dos dedos quando
parado.
A Electra simplesmente deslocou a caixa de movimento central um pouco
para frente da linha do tubo de selim, o que faz com que a perna do ciclista
fique corretamente esticada ao pedalar e permita que se apóie por completo os
pés no chão quando se está parado. Outro detalhe desta nova geometria é que o
entre eixos da bicicleta fica um pouco mais longo, portanto o comportamento da
bicicleta fica mais estável e lento, o que oferece uma dirigibilidade mais
previsível e segura para ciclistas pouco habilidosos. Para completar o pacote,
a Electra deu a seus produtos um ar algumas vezes infantil, outras saudosista,
e agora um pouco europeu. O sucesso é completo e vem influenciando os grande
fabricantes.
O cicloturismo
Desde o início do uso dos veículos de duas rodas, e depois
com os sociáveis, já se saía da cidade para fazer viagens ou mesmo passar o dia
fora no campo. Cicloturismo, de novo mesmo só o uso da palavra, e mesmo assim é
provável que esta não tenha surgido ontem, mas seguramente popularizou-se
recentemente.
Há documentação de usuários de biciclos fazendo longas
viagens bem antes de 1880. A própria história da "draisiana" cita
viagens entre cidades. Mas é com a bicicleta de segurança que as longas viagens
ficarão mais comuns, isto porque elas têm uma capacidade muito maior de levar
cargas que um biciclo.
Mesmo nos primórdios da bicicleta ir viajar pedalando era
uma opção barata, o que acabou sendo um atrativo para muitos de classes sociais
mais baixas.
Há alguns relatos sobre viajantes de bicicleta no meio do
movimento hippie americano. Há também relatos de pessoas que foram pedalando
assistir o Festival de Woodstock. A bicicleta nas décadas que o automóvel
imperou foi uma forma de contra-cultura, e fazer cicloturismo uma forma de
passear no paraíso.
Durante muito tempo tomava-se conhecimento sobre ciclistas
viajantes através de conversas em bicicletarias ou entre amigos. Sair da cidade
pedalando era considerado então um ato de total insanidade.
Aqui no Brasil sempre foi muito comum o pessoal fazer
romaria em bicicleta, algumas delas duravam dias.
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